Acordei... e não queria ter acordado
Eles me ligaram desesperados
E eu me levantei ainda meio perdido
Eu pensei... e não devia ter pensado
Os meus olhos estavam inchados
Percebi que eu nem havia dormido
Faz mais ou menos uns cinco anos
Que resolvi desafiar toda essa sociedade
E provar que posso viver sem dirigir
Paguei trinta reais num táxi e só me fodi...
E todos aqueles planos
De mudar um pouco essa realidade
Eu já esqueci, já deixei pra trás
Só quero conseguir viver em paz
O taxista viu que eu não estava bem
E, enquanto dizia que já havia apanhado bastante,
Ele mostrou algumas cicatrizes do seu viver
Mas ele sabe – e todos sabem também –
Que aquilo que mais dói na gente
Nenhuma outra pessoa pode ver
Cheguei numa reunião com meus chefes
E o único funcionário era eu
A primeira coisa que eu pensei: “fodeu”
Sim, eu estava desempregado, no olho da rua
A vida é quase que como uma bola de neve
É difícil acordar e saber que perdeu o emprego
É impossível ter um minuto de sossego
Vendo outro cara com a guria que era tua...
Peguei de novo o táxi daquele motorista
Ele disse que não dirigia por obrigação
E que tinha problemas na vista
E eu falei: “um acidente seria minha salvação”
A morte seria bem quista
E ele me disse: “não...”
E continuou: “Não sei qual o teu problema, meu jovem, mas
só queria te dizer pra não desistir. Estive pensando por muito tempo em me
matar viajando de carro por aí, seria perda total, não só de uma vida ou de um
automóvel, mas da sanidade mental. Erguer a cabeça é quase que obrigação e todo
vencedor um dia já foi derrotado. Faz o seguinte, seja como um taxista: dedique
sua vida a facilitar o caminho de outras vidas.”