Desabafo de Um Não Poeta

Conhecemos um pouco da essência da morte

Quando pensamos que a vida é só sorte 

Quando o medo se torna mais forte 

Do que a vontade de viver o sonhar

E precisamos silenciar a alegria 

Pois a inveja sempre se cria 

De olhos abertos, seremos o guia

Do nosso próprio caminhar 

Nós nos contentamos demais com o quase

Suplicamos a Deus por uma nova fase 

Nos preocupamos com acentos e crases

E, na verdade, nem temos o que falar

Eu estava amando uma alma vazia

Fizeram, um dia, eu escrever poesia

Disseram que isso mudaria a minha vida...

O mundo de sempre, frio e impiedoso,

Abre mão do rock por esse axé horroroso

E me obriga, de novo, a ser um cara novo 

Não sei até quando conseguirei aguentar

Nós nos orgulhamos por viver em liberdade 

Mas seguimos presos a nossa própria vaidade 

Somos escravos das mentiras, na verdade...

E faz tempo que eu preciso desabafar:

Eu ainda estou amando uma alma vazia

Fizeram, um dia, eu escrever poesia 

Disseram que isso mudaria minha vida...

... eu só não sabia que iria piorar. 

Overdose (O Espelho Não Reflete O Que Nós Sonhamos Ser)

Eu troquei o meu destino por outros
Procuro, a partir de agora, algo novo
Eu rasguei o meu rabisco mais valioso...

Foi só um pesadelo, já vai passar
Foi só um sonho, não queria acordar
Overdose de muitas ótimas intenções
E, delas, overdose de decepções

Vontade, às vezes, de ter vontade
Pra correr atrás do que não quer voltar
Pra voar pra longe e poder lembrar
Com saudade, da época que não dava saudade

Eu quero te fazer acreditar
Eu preciso te fazer pensar:

Quantos destinos, por dia,
Passam pela tua frente?
E olha só em qual o teu...
... ousou esbarrar.

Na Estrada

Não sei se gostava de mim
Ou ficava porque eu amava
Não sei se vivia na paz
Ou com a alma pesada

Não sei se queria o fim
Mas sempre prolongava
Não sei se acreditava demais
Ou apenas me enganava

Não sei se chorava de dor
Ou para ouvir minhas palavras
Não sei se morria de amor
Ou, aos poucos, me matava

Não sei se gostava do silêncio
Mas sempre se calava
Não sei se amava o tango
Ou apenas me bailava

Às vezes parece que perdi tudo...
... agora, acho que não perdi nada
Mas parecem-me tão obscuros
Os próximos passos da minha estrada...

De Volta Pra Casa

Anos atrás eu andava por aí, te encontrei
Eu te conheci e nunca mais soube te esquecer
Era a razão da minha vida ali, eu sei...
Falhei, eu não poderia te perder

Eu precisei mudar pra te ter nos meus braços
E, quando achava que não viveria mais sozinho,
Tu andaste pra longe dos meus passos...
É que São Paulo era o teu caminho

Mas, sem muito o que pensar,
Eu fui atrás.

Falei pra minha mãe não me esperar
Eu necessitava, ao menos, tentar te procurar
Pra reconquistar o que perdi
Pra poder te provar que não morreste aqui,
Dentro de mim.

Dias atrás eu andava por lá, te reencontrei
Eu te reconheci e lembrei o porquê de nunca te esquecer
Era a razão da minha vida, eu sei...
Prometi nunca mais te perder

Mas eu precisei te dizer quem eu era
Não me reconheceste ao me olhar
E as minhas palavras sinceras
Tiveram que novamente silenciar.

Eu te dei adeus com o olhar perdido
E a tua voz ecoa dentro dos meus ouvidos
Nesta vida de agonia que nunca passa
Acho que a minha mãe ainda me espera
Eu estou voltando para a minha terra
O amor um dia me deu asas...

... e com elas eu voo de volta pra casa.

Baile de Máscaras

O ruir de uma era
Que aos poucos se encerra
O sorriso após a guerra...
E o cair das máscaras.

A visão de raio-x
Compreensão da alma infeliz
A canção e o que ela diz...
No cair das máscaras.

A Terra em movimento
Nas  favelas e no centro
A vela e o vento...
E o apagar das máscaras.

Eu estou quase pronto
Digo quase pois ainda não estou
Sabe o que faltou...?
Eu colocar a máscara.

Gente que me irrita
E gente tão bonita
Vocês chamam de vida...
Este baile de máscaras.

Teu sorriso incendeia
Uma flor que não se cheira
Coloque em minhas orelhas...
A armação da máscara.

Todo mundo usa
Tem gente que abusa
Outros combinam com a blusa...
Também quero a minha máscara.