segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Amor Negro

- Menino, por que está fazendo isso no seu cabelo?

- Eu quero cortá-lo, está muito grande.

- Mas ele é tão bonito, combina tanto contigo.

- Eu também acho, mas ele vai crescer.

- Sabe, eu te sigo há pelo menos três meses, sei que tu estuda no Gensa, tu nunca reparou?

- Nossa, eu não sabia disso. Aliás, eu sou um cara distraído, não observo quase nada. Por que tu andas atrás de mim?

- Teu cabelo me lembra do guri que eu amo, eu achava que tu poderia me ajudar, porque tu és a única pessoa que me faz rir ao lembrar dele.

- Sério? Que legal isso. Se isso te faz bem, tu podes continuar me seguindo. Melhor ainda, nós podemos conversar e ser amigos. Não seria melhor?

- Acho melhor não, Marcel.

- Como tu sabe o meu nome? E por que não?

- Porque faz três meses que eu me apaixonei por um guri com cabelos negros, com uma linda franja que, olhando de perto, combina perfeitamente com o preto dos olhos dele. Marcel, eu não quero me iludir, eu sei que nunca teremos nada. Eu só quero me imaginar contigo, te seguir sempre que eu quiser e desta forma ser feliz, eu posso?

- Claro, a vida é tua. Tu age como quer, mas, afinal, quem és?

- Eu sou a filha do teu cabeleireiro.

domingo, 30 de janeiro de 2011

A Culpa É Sempre do Treinador

- A responsabilidade está em suas mãos, boa sorte. – Deseja aquele homem com semblante nervoso a seu goleiro.

- Pode deixar “professor”, vou fazer o máximo para ganharmos o jogo, e se Deus quiser, eu não levar gol – Responde aquele menino de 19 anos que recém estreava pela equipe profissional.

Aos laterais, acostumados a clássicos regionais, ele retoma o que havia conversando na palestra:

- Atenção, eu quero que quando um avance, o outro fique. Quando tomarmos um contra-ataque eu quero que o homem que “segurou” lá atrás feche como o terceiro zagueiro, enquanto o outro vem por dentro, ok?

Os meninos parecem bem cientes do que devem fazer dentro das quatro linhas, mas ele os avisa sobre a especialidade do adversário, as bolas alçadas na área pelas laterais.

Os dois zagueiros, ambos acima de 30 anos, estavam tranquilos quanto aquele clássico, já haviam disputados outros tantos, recebendo apenas orientações técnicas e táticas do treinador.

No meio-de-campo o cabeça-de-área, que não passava por uma boa fase, era quase sempre vaiado pela pequena torcida que comparecia, mas jogava no carteiraço dos cartolas. Os dois volantes-armadores tinham a incumbência de ajudar o primeiro volante na marcação e participar junto com os laterais e com o enganche, na articulação das jogadas. O camisa 10 do time, capitão e homem da bola parada era o centro das atenções do adversário.

O treinador ordenou o atacante de velocidade a jogar pelos lados do campo e cravou o centroavante, com boa estatura e bom porte físico, para trombar com os zagueiros do outro time.

De nada adiantou, tudo deu errado naquele dia. O centroavante até fez um belo gol. Depois de uma falta bem batida da entrada da área, ele se antecipou ao zagueiro e cabeceou para o fundo das redes. Mas, para azar daquele time, o goleiro falhou no primeiro gol. Em uma cobrança de falta, a bola ultrapassou a barreira e entrou sem força no canto. No segundo, ambos os laterais foram ao ataque, desesperados pela vitória. Em um contra-ataque mortal, também com a falta de cobertura do primeiro volante, a jogada desenhada pelo técnico aconteceu, bola para o lateral, cruzamento, gol do centroavante adversário.

O treinador estudou o adversário, montou o time certo, deu as melhores ordens possíveis, tranqulizou os jogadores jovens. Ele tentou e o time não correspondeu. Fim de partida, torcida irada, atletas abatidos, direção irritada. 

E a culpa pela derrota, mais uma vez, foi creditada ao técnico. Então, diga-me, por favor, por que a culpa sempre é do treinador?

Ele muitas vezes faz o que pode, assim como todos em suas vidas, mas as pessoas, talvez por orgulho, talvez por teimosia, não fazem o que pedimos. Ou talvez elas não saibam fazer, e se for este o caso, teremos que nos acostumar a isso ou pedir demissão. 

E isso não serve só para os treinadores de futebol...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sobre Nós Dois

Aquele velho coração
De anos passados
Ainda está guardado
Nas caixas, nas caixas do meu tempo.

Aquele velho coração
Que está partido
Ainda bate sorrindo
Todas às vezes que eu lembro,

De nós dois.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Campanha Contra As Trevas

Nos perdemos na essência da excelência
Quando, na verdade, somos seres imperfeitos.
Nos enganamos e nos iludimos
E assim, de todos os problemas, fugimos.

Nos perdemos na decadência da verdade
Na dificuldade de dizer a realidade
Quando omitimos a nós mesmo
E nos entristecemos por medo

Nos perdemos na falta de educação
De um povo sem união
A gente se perde quando somos julgados
Por fatos que só fazem parte do passado

Nos perdemos quando aquele sorriso não voltou
Ou quando cai a ficha que erramos
Tudo que era bom se acabou.
Está na hora de trocar os planos

Nos perdemos na existência do mal
Que nos atinge todos os dias
Os sonhos que deveriam ser reais
Dão lugar a uma realidade tão fria.

Nos perdemos na vida
Seria tão fácil se nos uníssemos
Mas nós pensamos no individual
E sofremos as consequências em conjunto

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

E Todos, Eu Digo, Todos

E todos, eu digo, todos traem.
Sem medo de me arrepender
O mais importante de olhar pra trás
É encontrar a fórmula de levantar outra vez.

E todos, eu digo, todos amam.
Querendo, ou não, esconder.
O que precisamos é encontrar a paz
Que devem estar nas escolhas que a gente fez.

Em meus olhos escorrem os chuviscos
Das feridas que custam a cicatrizar
Mas se descobri algo dessa vida
É que não podemos deixar de sonhar.

Já tentei mudar o mundo através de alguns rabiscos
Mas não há modo de desenhar
A beleza das matas, com a pobreza das pessoas,
Isso é contraste, não é assim que deve estar.

E todos, eu digo, todos lutam.
Mas ninguém ouve o barulho na porta
Os seus ideais se perdem
Quando você é o perdedor da luta.

Mas poucos, eu digo, poucos levantam.
A grande maioria se conforta.
Pois são raros os que percebem
Que a guerra continua.

Em meus olhos escorrem os chuviscos
Das feridas que custam a cicatrizar
Mas se descobri algo dessa vida
É que não podemos deixar de lutar

Já tentei mudar o mundo através de alguns rabiscos
Mas não há modo de desenhar
A beleza das matas, com a pobreza das pessoas,
Isso é contraste, não é assim que deve estar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Outro Plano?

Tudo é complicado e revoltoso demais
O mundo inteiro dá passos largos para trás
Escravidão, diferenças e tragédias.
Retratada por muitos em filmes de comédia.

Assim caminhamos rumo ao fim
As pessoas que nos amam, preferimos enganar.
E acreditar que as que não nos dão bola vão nos notar
Tudo anda muito estranho para mim.

O preconceito toma conta dos corações
O respeito parece mesmo ter se entregado
E o direito de liberdade
Parece mesmo estar acabado.

A influência corrupta da televisão
E o poder nas mãos erradas
Desconforto, tristeza e escravidão.
Voltamos a viver décadas passadas.

Nem parece que foi há tanto tempo
Que o ódio tomou conta do mundo
É olhar para o lado e ver pichado um muro.
Falando sobre drogas e facções, imoralidades e traições.

Diante de tanta diferença, de tanta descrença.
Vejo que o mundo virou uma monotonia
A vida virou sinônimo de tristeza.
E as banalidades viram normais com o decorrer dos dias.

O verde ainda não foi completamente desmatado
E ainda temos água para alguns anos
Vamos recomeçar, mudar o que fazemos de errado.
Ou você tem algum outro plano?

Não somos mais ...

... o mais belo dos casais. Caímos de pára-quedas em amores normais.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fim De Ligação

O telefone toca e aquela loira de olhos castanhos atende:

- Alô, quem está falando?

- Alguém. – Responde o moço com a voz nitidamente forçada.

- Se não vais me dizer o nome, diga logo o que queres – diz ela, já impaciente.

- Eu só queria saber – e titubeando continua – o que a sua mãe faz sabendo que você sai, bebe, fuma e dá para qualquer um.

 Ela pensa um pouco, respira fundo e solta:

- Ela apenas ri das mães que acham que seus filhos são santos.

Tum, tum, tum, tum ...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Filosofia de Boteco

            Um homem novo, com tradições de velho e ideias de criança. Apenas assim podemos classificar uma pessoa tão querida, tão bem humorada, tão bipolar quando esta. Sua frase preferida, e mais usada, é: “Eu vou beber a última e nós vamos embora”.

            Ele deve se identificar muito com ela, pois a repete dezenas de vezes durante as tardes, as noites, as madrugadas. De quando em quando a cerveja acaba, a wodka falta, e nessas horas ele parece ser alguém normal. Mas ele não é, ele está quieto, abstinente, necessitado de algo mais forte que um simples suco natural.

            - Existem as mulheres normais e as que não engolem. – começa a filosofar entre garrafas vazias e um prato com seu lanche.
           
            Como ele mesmo diz “Depois da terceira cerveja é embeleze.”, as pessoas passam a enxergar beleza onde não tem, passam a ter a sinceridade que nunca tiveram, e assim a vida torna-se mais bonita. E como ele sempre está com um considerável nível alcoólico no seu sangue, a vida dele é simplesmente a melhor, a mais verdadeira, a vida perfeita, cheia de amigos, como ele mesmo fala:
           
            - Eu bebo para fazer amigos, nunca conheci alguém que fez amigos bebendo leite.
             
            A tarde vai passando rápido, as discussões ao redor da mesa são cercadas por descontrações, confusões e troca de farpas. Chegando o fim do dia, com o sol já se pondo, ele vê a hora de ir embora cada vez mais próxima, paga sua conta, pega suas coisas, entra no carro e leva cada um de seus amigos de um dia para casa.

            - Ei, você aí, pega essa garrafa e joga na primeira pessoa que tu veres na estrada – ele diz pra um enquanto deixa o outro na sua casa.

            - Acho que eu vou dar uma mijada, limpar o pneu do meu carro, não gosto de pagar esses caras que limpam a meia boca, deixa que eu faço o serviço. – Resmunga, enquanto levanta seu instrumento, fazendo do seu mijo um chafariz e limpando o seu carro.

            E após isso tudo, depois de deixar todos em casa, sobra tempo para pensar em um título para suas histórias e frases de efeito:
           
            - Eu posso fazer uma lista de palavras, e escrever nossas histórias, não para ganhar dinheiro, só para dar risada, mesmo. Se eu fizesse, iria se chamar “Filosofia de Boteco”.

            E assim continua a saga de um boêmio, com seu Uno 1998 e sua rádio Princesa, partindo para onde o destino levar, algum lugar que a cerveja não possa acabar...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Milonga

 Então deixe assim, se não queres me ajudar. – dizia ele com lágrimas nos olhos.

E ela, esperando por estas palavras, partiu-se.

Mas toda a vez que ela coloca a cabeça no seu travesseiro para dormir, a quilômetros de distância do seu antigo amor, ouve uma voz cansada, triste, que diz:

- “Você vai rezar pra me esquecer, vai pedir pra me esquecer, mas eu não vou deixar”.

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Feliz Ano Novo

Da janela do meu quarto sinto um cheiro no ar
A cidade se movimenta e acaba com o verde
As chaminés das fábricas lançam
Junto com nossa esperança, lixeiras fumegantes.

E de vez em quando a natureza vem contra atacar.
Sem piedade alguma, proporcionando fome e sede.
Chegará a hora que ela vai cansar
E vai acabar com toda a vida restante.

E aqui, neste resquício de mundo;
A arrogância toma conta de nós.
Não percebemos que tudo pode acabar;
Nem que somos nosso próprio algoz.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Cadeado

Eu sei que querem nossas vidas iguais
Uniformemente seria mais fácil de nos combater

Somos o fim do amor
E também o aborto da vida
Intrigante e corroída

O que dizer daqueles homens que dormem na calçada?

Alguma gota d'água quer limpar o oceano
Mas a esperança se perde no frio da madrugada
Oremos nós, donos do saber, antes que a dor deles
Reflita no nosso amanhecer

É a única forma de agirmos certo

Traçando caminhos de mãos dadas
Rindo da desgraça alheia
Insistimos no erro, por medo de sermos julgados
Sabendo que o que vale é o que nós somos por dentro.
Tempos difícieis vivemos, desde antes de cristo
E desde aqueles séculos que o amor é transformado em vício com cura.

Eu sei que querem nossas vidas iguais
Uniformemente seria mais fácil de nos combater

Somos o fim do amor
E também o aborto da vida
Intrigante e corroída

Nada de mais, senhores donos da verdade
União, paz, alegria e liberdade.
Nos trazem uma vida mais fértil
Chovendo ou fazendo sol
A luz ou a sombra trará os frutos

Você ainda é a capaz de fazer alguma coisa para melhorar
Invente, reinvente-se, e veja como se sente:
Vaidade não é arrogância, alegria não é esperança.
Então, plante uma muda
Reerga-se com a sensação de mudar
Entoe cantos de amor e paz
Mostre a força que há dentro de você
O que era escuro, parece estar mais claro
Sinto muito, eu queria ser seu coração mais raro.

Somos o fim do amor
E também o aborto da vida
Mas ainda sonhamos com tardes coloridas.

Alguma gota d'água quer limpar o oceano
Mas a esperança se perde no frio da madrugada
Oremos nós, donos do saber, antes que a dor deles
Reflita no nosso amanhecer

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Eu sei, o amor é triste. Eu sei, nunca viveremos sem amor. Esse é o nosso segredo, e eu desapareci com as chaves deste cadeado.