sábado, 12 de março de 2011

Tempos Modernos

            Três anos de casamento, somados aos quatro anos de namoro, parecia um sonho que se arruinara. Era a realidade que colocava a prova quase uma década de amor. Eram atitudes, de ambos os lados, que faziam com que as duas pessoas da relação se afastassem cada vez mais uma da outra.

            O marido resolveu conversar, mesmo sabendo que poderia ser o último ato para salvar aquele relacionamento:

            - Amor, o que está acontecendo com a gente? Onde foi parar toda aquela esperança? Eu nem vejo seus olhos brilharem mais para mim.

            A mulher, já cansada de esperar uma atitude do marido, sorri por dentro, apesar de manter-se fria por fora, e diz:

            - Eu não sei o que está acontecendo. Mas eu não perdi a minha esperança, apenas acho que não temos mais o mesmo amor um pelo outro.

            O temor do marido se tornara real, ele entendeu a mensagem, percebeu, naquele momento, que tudo tinha acabado. Moravam juntos, viviam um com o outro, mas suas almas e seus desejos já estavam distantes.

            Ele, então, teve a ideia de contar segredos. Se houvesse uma hora para acabar um relacionamento, era aquela. E queria saber coisas que não poderia antes, quando estavam juntos:

            - Ok, eu entendi o que quiseste dizer. Mas eu não quero passar este dia em branco, quero que contes segredos teus.

            Ela responde com veemência:

            - Se é isso mesmo que quer, comece você.

            Ele, sem saber por onde começar, revela:

            - Eu te traí nesses últimos dois anos, eu desviei dinheiro da empresa do teu pai que me fizeram pagar estes dois carros que estão na garagem e esta cobertura. Convenci tua família a me colocar à frente dos negócios e, desde então, tudo passa por mim, ou seja, toda a riqueza da tua família pertence a mim também.


            Ela, apenas do espanto e da tristeza, também desabafa:

            - Meu querido, eu me conheci de verdade depois que você apareceu na minha vida. Eu não sabia quem eu era, do que eu gostava, eu não sabia de nada, na verdade. Você me trouxe a imensa vontade de ser mulher, me deu a paz, a alegria, me mostrou os caminhos, sem ligar pro preconceito das nossas famílias, obrigado por estes sete anos juntos.

            Ele, surpreso, provoca:

            - Por que está me elogiando? Olha o que eu fiz. Outra coisa, isso não é um segredo.

            E ela, com um sorriso que o metralhou, olhou nos olhos dele e disparou:

            - Amorzinho, eu era um homem quando falei contigo pela primeira vez.


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